Durante o mês de setembro, é comemorado o Dia do Cerrado, mais precisamente no dia 11/09, e esse importante ecossistema tem vários projetos de pesquisa em desenvolvimento no Instituto Federal de Brasília
Durante o mês de setembro, é comemorado o Dia do Cerrado, mais precisamente no dia 11/09, e esse importante ecossistema tem vários projetos de pesquisa em desenvolvimento no Instituto Federal de Brasília. As iniciativas encontradas estão em grande parte no IFB/ Campus Planaltina e envolvem ações que vão desde as atividades de educação ambiental até projetos de extensão compartilhados com a comunidade. Vale conhecer algumas produções científicas e resultados de pesquisadores e estudantes do IFB, em destaque o lançamento do livro “Sistemas Silvipastoris com Árvores Nativas no Cerrado”; o projeto “Potencial do estrato arbóreo-arbustivo de Cerrado Sensu Stricto para fins medicinais”; o projeto “Sementes do Cerrado e Corredor Agroflorestal” e; o projeto de extensão no IFB “Jardim Cerratense como instrumento de Educação Ambiental.”
Lançamento do livro “Sistemas Silvipastoris com Árvores Nativas no Cerrado
Já pensou em restaurar áreas com aroeira, baru, copaíba, pequi e tantas outras espécies nativas do Cerrado? É o que traz a publicação “Sistemas Silvipastoris com Árvores Nativas do Cerrado”, com 23 espécies de árvores frequentes nas pastagens do Cerrado, além das suas características. O livro é de autoria da professora do IFB, Elisa Bruziguessi com demais pesquisadores. “Os Sistemas Silvipastoris combinam silvicultura e pecuária para gerar produção complementar e interação positiva entre árvores, capim e gado. No Cerrado, são encontradas alta regeneração e diversidade de árvores nativas em pastagens. O livro traz caminhos para a implantação de Sistemas Silvipastoris com árvores nativas no Cerrado: sua definição, importância, experiências em andamento, métodos de cultivo, incentivos e oportunidades”, explica Elisa, professora e doutora em Ciências Florestais. Para quem tiver interesse e já quiser conhecer o conteúdo, o livro pode ser baixado gratuitamente em formato pdf pelo link disponível aqui. O livro também já foi impresso, e seus exemplares serão distribuídos para bibliotecas e instituições de todo o Brasil que trabalham na área. Projeto Potencial do estrato arbóreo-arbustivo de Cerrado Sensu Stricto para fins medicinais
A estrutura do Cerrado se apresenta como um mosaico florístico formado por fitofisionomias que vão de formações florestais “(Mata Ciliar, Mata de Galeria)”, Savânicas “(Denso, Típico, Ralo e Rupestre)”, e Campestre “(Campo Sujo, Campo Rupestre e Campo Limpo)” (Borghetti et al., 2019). Neste contexto, o cerrado sensu stricto abrange as fitofisionomias de cerrado denso, cerrado típico, cerrado ralo e cerrado rupestre e é caracterizado pela presença de árvores baixas, inclinadas, tortuosas, com ramificações irregulares e retorcidas, e geralmente com evidências de queimadas. Esta e outras referenciais podem ser visitadas no artigo sobre o projeto “Potencial do estrato arbóreo-arbustivo de Cerrado Sensu Stricto para fins medicinais” desenvolvido pelo professor do IFB/ Campus Planaltina, Ilvan Medeiros Lustosa Junior e pelo egresso e ex-estudante Getúlio Paiva, do curso de Agroecologia.
Diante desse vasto cenário florístico, o professor Ilvan propõe identificar dentre o rol de espécies identificadas que compõem este bioma a discussão acerca dos usos e indicações terapêuticas de plantas que possuem em sua formulação alguma propriedade medicinal, já disseminada e popularmente usada para combater uma ou mais patologias. As atividades de pesquisa de campo têm acontecido no Campus Planaltina, especificamente, na área do Parque Distrital Colégio Agrícola de Brasília, a área de estudo caracteriza-se como de vegetação predominantemente de cerrado sensu stricto, muito embora haja a presença de demais formações vegetacionais e outras fitofisionomias, com aproximadamente 1.039,63 hectares.
“Foram feitas instalações para a pesquisa e levantamento florístico e fitossociológico da amostra mapeada no parque. Entre as principais espécies com potencial fitoterápico identificadas, conforme o Índice de Valor de Importância (IVI) estão as espécies Eugenia dysenterica, Qualea grandiflora, Kielmeyera coriacea, Piptocarpha rotundifolia, Qualea parviflora, entre outras. Ao todo dez espécies foram identificadas por uma equipe de estudantes do IFB e, em um segundo momento, realizada busca de material bibliográfico comparativo para melhor compreensão sobre esse potencial já mapeado”, explica o professor.
A metodologia para o projeto de campo incluiu a divisão de dez parcelas do espaço geográfico e, nelas foram feitas marcações para medições das árvores encontradas no local. Ainda no artigo publicado sobre o projeto: “Define-se como planta medicinal o vegetal que tem seu princípio ativo evidenciado farmacologicamente e incluso na farmacopeia (Lorenzi & Matos, 2008). De acordo com Rodrigues (2010), o conceito de plantas medicinais está relacionado à presença de substâncias bioativas e com propriedades terapêuticas, profiláticas que melhoram a qualidade de vida. Não obstante, a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2021) define que as plantas medicinais são todas aquelas que contêm em um ou mais de seus órgãos substâncias que podem ser utilizadas com propósitos terapêuticos ou que sejam precursoras de semisíntese químico-farmacêutica.”
Conheça as dez espécies nativas encontradas no IFB/ Campus Planaltina e seus fins terapêuticos:
Eugenia dysenterica DC. Cagaita / Arbóreo Casca, Frutos e Folhas Casca e folhas possuem ação antidiarreica, cicatrizante, antioxidante, moluscicida. Apresenta potencial antibacteriano e antifúngico (Silva Junior, 2012; Pereira & Cunha, 2015; Queiroz, 2015; Silva; Rabelo & Enoque, 2015). Qualea grandiflora Mart. Pau-terra / Arbóreo Folhas e Cascas As cascas são antissépticas. As folhas são indicadas para tratar diarreias com sangue, cólicas intestinais, dores estomacais, amebíase e inflamações em geral (Aguiar & Barros 2012; Silva Junior, 2012; Silva; Rabelo & Enoque, 2015). Kielmeyera coriacea Mart. Pau-santo / Arbóreo Folhas e Cascas Emoliente. A casca é considerada tônica e emoliente, sendo utilizada para tratar dores de dente. As folhas possuem propriedades emolientes (Silva Junior, 2012; Silva; Rabelo & Enoque, 2015). Piptocarpha rotundifolia (Less.) Baker Cinzeiro / Arbóreo Flores e Folhas As folhas e flores são usadas como enérgicos, e também, como antisséptico, anti-inflamatório e antidiarreico (Silva, Rabelo; Enoque, 2015). Qualea parviflora Mart. Pau-terrinha / Arbóreo Folhas e entrecasca As cascas e as folhas são utilizadas para tratamento de gastrite (Silva; Rabelo & Enoque, 2015; Vieira et al., 2015). Xylopia aromática (Lam.) Pimenta-demacaco / Arbóreo Frutos, folhas e casca A casca do caule é utilizada como anti-inflamatório e trata problemas digestivos. Apresenta propriedades afrodisíacas, tônico, vermífugo, febrífugo entre outras (Silva Junior, 2012; Silva; Rabelo & Enoque, 2015; Brandão, 2019). Stryphnodendron adstringes (Mart.) Coville Barbatimão / Arbóreo Casca, folhas e raiz É indicado no tratamento de hemorragias, diarreia, hemorroidas, para limpeza de ferimentos e chá da raiz na forma de gotas contra conjuntivite, prevenir queimaduras resultantes da radioterapia, antifúngico para tratar candidíase. Acne e manchas de pele e calvície na fitocosmética (Aguiar & Barros, 2012; Silva Junior, 2012; Oliveira et al., 2012; Pereira & Cunha, 2015; Alonso, 2016). Miconia burchellii Triana Pixirica / Arbusto Folhas Citotóxica para células tumorais (Cunha et al., 2021). Caryocar brasiliense Cambess. Pequi / Arbóreo Cascas, folhas e fruto A casca e as folhas são adstringentes. O óleo da castanha e os caroços são utilizados para tratar asma, bronquite, coqueluche e resfriados. Os caroços são considerados tônicos e afrodisíacos. As folhas são adstringentes e estimulam a secreção da bile. Regulador de fluxo menstrual (Silva; Rabelo & Enoque, 2015). Byrsonima crassifolia (L.) Kunth Murici / Arbusto Folha, Frutos e Casca, raiz Alto teor de carotenoides, atividade antioxidante e antifúngica e antidepressiva (Herrera-Ruiz et al., 2011; Brandão, 2019).
Projeto Sementes do Cerrado e Corredor Agroflorestal
O projeto de Sementes do Cerrado já acontece no IFB Campus Planaltina desde 2019 e, ainda neste mês, será revitalizado um mural expositor com grande diversidade de sementes do Cerrado pelos professores Elisa Bruziguessi e Igor Oliveira. O projeto envolve a divulgação e valorização das sementes de árvores e arbustos do Cerrado e faz a promoção aos alunos e agricultores desse ecossistema.
“São ricos os momentos de troca de sementes junto com estudantes e agricultores antes dos plantios de restauração do Cerrado e de formação de sistemas agroflorestais que incluem a biodiversidade do Cerrado”, conta a professora que organiza essas trocas. Foi desenvolvido um corredor agroflorestal onde já foram plantadas mais de 70 espécies de árvores e arbustos, dentre elas a maioria nativa do Cerrado.
A ideia é realizar mutirões para o plantio e manejo desse corredor agroflorestal para que seja possível fazer uma conexão na paisagem ligando os sistemas produtivos e as áreas remanescentes ainda conservadas. O trabalho foi apresentado no VIII Congresso Latino-Americano de Agroecologia em 2020, e alguns resultados científicos foram mencionados.
Uma grande densidade e diversidade de plântulas se estabeleceram; há muitas possibilidades de manejo (podas, desbastes) para delinear o futuro desse corredor com inspiração nos princípios da abundância, diversidade, estratificação e sucessão natural.
Esse corredor agroflorestal biodiverso com espécies nativas do Cerrado constitui-se uma rica área experimental e didática que nasceu da prática integrada do ensino, pesquisa e extensão. A intenção do trabalho é aperfeiçoar e divulgar a semeadura direta como forma eficiente de plantio e mostrar aos agricultores possibilidades de conciliar produção e conservação. Atualmente, o estudante do IFB do Curso de Tecnologia em Agroecologia Jerônimo Kindler é bolsista de PIBIC com projetos de pesquisa nessa área, trabalha no acompanhamento e manuseio do corredor agroflorestal com espécies do Cerrado, que já completou dois anos, e conta com o consórcio de espécies agrícolas como as Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs). O espaço tornou-se referência para novas pesquisas.
No projeto ainda participam os professores Paulo Cabral e a professora Paula Petracco. Projeto de extensão no IFB Jardim Cerratense como instrumento de Educação Ambiental A professora Diane Ivanise Fiamoncini, docente da Licenciatura em Biologia e do curso de Agroecologia do IFB Campus Planaltina, juntamente com as professoras Edilene Marchi e Viviane Evangelista vão iniciar no próximo semestre, em parceria com a Universidade de Brasília (UnB), o projeto Jardim Cerratense como instrumento de Educação Ambiental no campus.
A ideia é convidar a comunidade acadêmica e outras escolas de ensino para conhecer o espaço, que vai abrigar espécies nativas herbáceas, gramíneas e arbustivas das formações savânicas e campestres do Cerrado, incluindo o cajuzinho do cerrado, Caliandra, dentre outros exemplos que representam a diversidade do bioma.
A principal ideia do projeto é apresentar o jardim cerratense, por meio de projeto de design gráfico e de arquitetura, como espaço de consciência ambiental para os estudantes das escolas públicas de Planaltina e para a comunidade interna do campus. Também será realizada como recepção de “boas-vindas” aos estudantes do IFB para que conheçam a ideia dos jardins naturalistas e cerratenses, como instrumento de educação ambiental para o conhecimento e a preservação de espécies nativas do Bioma Cerrado.
“Vamos visitar escolas da Rede Pública para fazer esse convite. Esperamos que outros alunos possam conhecer e se interessar mais sobre a diversidade do Cerrado e aperfeiçoar conhecimentos na área de Educação Ambiental”, conta animada a professora. Além disso, a professora Diane reforça que é necessário divulgar o conceito de que a estética do cerrado pode ser inserida em jardins, pelas qualidades de beleza que apresentam e como instrumento de preservação da flora e da fauna local.
Os estudantes do IFB Willian Jeferson, de Agroecologia, Sarah Oliveira e Lucas Bombardi, da Licenciatura em Biologia, e o estudante Cleiton Silva, do curso de Arquitetura da UnB, vão trabalhar diretamente com o projeto. William, mais conhecido como Biro Biro, já faz o acompanhamento do Jardim Louise Ribeiro, na Universidade de Brasília (UnB), e o manuseio de outros jardins do cerrado na cidade.O mais novo “Jardim do Cerrado” estará localizado no IFB Campus Planaltina e será mais um espaço de reconhecimento das plantas nativas do Cerrado. Demais informações para agendamento de visitas e horários serão divulgados em breve.
Foto: Acervo/IFB
Fonte:jornaldebrasilia