20 de abril de 2023

Dívida no rotativo do cartão de crédito se multiplica por cinco em um ano

Atualmente, na prática, os juros do rotativo podem virar uma dívida até cinco vezes maior passados 12 meses

Deixar de pagar o total da fatura do cartão de crédito pode render uma dívida milionária ao brasileiro. Os juros do rotativo, uma espécie de empréstimo dos bancos para que o cliente quite o débito, estão entre os mais altos do mercado.

Em fevereiro, a taxa média cobrada foi de 14,68% ao mês, ultrapassando 417,43% ao ano. Um grupo de trabalho do governo Lula com o Banco Central vai debater as taxas de juros do rotativo, que devem continuar a ser determinadas por cada instituição financeira. A diretoria do BC afirmou que estabelecer um teto para o rotativo do cartão está fora de cogitação.

Atualmente, na prática, os juros do rotativo podem virar uma dívida até cinco vezes maior passados 12 meses.

Segundo cálculos feitos pela Anefac (Associação Nacional de Executivos) a pedido da reportagem, uma dívida de R$ 500 no cartão de crédito se aproxima dos R$ 2.600 em um ano. Em cinco anos, na atual taxa de juros, o débito chegaria a R$ 1,8 milhão.

Em outra estimativa, R$ 10 mil no rotativo do cartão se transformam numa de dívida de mais de R$ 37 milhões. Confira abaixo outros exemplos.

Quanto custa a dívida no rotativo do cartão de crédito

TAXA DE JUROS MÉDIA DE 14,68% ANO MÊS – 417,43% AO ANO

Valor – Após 1 ano – Após 2 anos – Após 5 anos

R$ 500 – R$ 2.587,15 – R$ 13.386,73 – R$ 1.854.518,03
R$ 1.000 – R$ 5.174,31 – R$ 26.773,46 – R$ 3.709.036,07
R$ 5.000 – R$ 25.871,54 – R$ 133.867,28 – R$ 18.545.180,33
R$ 10.000 – R$ 51.743,07 – R$ 267.734,55 – R$ 37.090.360,67

Fonte: Cálculos feitos por Miguel José Ribeiro de Oliveira, da Anefac (Associação Nacional de Executivos)

A recomendação de especialistas a quem se endividar no cartão é buscar por modalidades de crédito com prazos maiores e taxas menores -como o crédito pessoal- para sair do rotativo.

“Eventualmente, quando a pessoa entra no rotativo, o banco oferece condições com juros menores para que ela faça o parcelamento”, afirma Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor-executivo da Anefac, responsável pelos cálculos.

Desde abril de 2017, os bancos são obrigados a transferir, após um mês, a dívida do rotativo para uma linha de crédito parcelado, que tem taxas mais baixas.

Mas é preciso cautela ao parcelar a dívida, diz Reinaldo Domingos, presidente da Abefin (Associação Brasileira de Profissionais de Educação Financeira). Embora mais baixos do que o do rotativo, os juros do parcelamento também são altos.

O devedor tem que entender como chegou no descontrole financeiro antes de tentar negociar. Do contrário, afirma o especialista, ele também não conseguirá arcar com as prestações.

“A velocidade das dívidas de cartão de crédito, uma vez não pagas, são avassaladoras. São juros sobre juros”, afirma o também presidente da DSOP Educação Financeira.

A Serasa Experian diz que o cartão de crédito segue sendo o principal motor das dívidas entre os inadimplentes.

Dados do BC mostram inadimplência acima de 44% no rotativo do cartão de crédito para pessoas físicas no ano passado. É o maior percentual da série histórica, iniciada em março de 2011. A explicação está na alta da inflação e dos juros, que dificultam o pagamento de despesas básicas.

COMO FUNCIONA O ROTATIVO DO CARTÃO DE CRÉDITO

1 – A empresa que concedeu o cartão é que estabelece os juros, o limite e as condições do crédito rotativo

2 – O crédito rotativo só pode ser usado por um mês

3 – Se o cliente não conseguir pagar o valor total da fatura seguinte, a instituição financeira é obrigada por lei a oferecer outra linha de empréstimo com condições melhores que as do crédito rotativo

SAIBA UTILIZAR O CARTÃO DE CRÉDITO SEM RECORRER AO ROTATIVO

– Estabeleça um “teto de gastos” para seu cartão, que seja inferior ao limite total disponibilizado pela operadora do cartão
– Acompanhe sempre a fatura, conferindo compras parceladas e se os valores lançados estão corretos
– Cuidado com as “parcelinhas”. No fim, a soma de todas elas pode comprometer grande parte da renda mensal
– Evite comprar por impulso. Faça uso consciente do cartão e compre somente quando necessário
– Procure pagar o valor integral da fatura para evitar os juros e na data correta de vencimento
– Verifique se seu cartão é gratuito ou se você paga anuidade por ele. Caso tenha tarifas, vale a pena procurar alternativas sem custo
– Não empreste seu cartão para ninguém

Imagem: Reprodução

Fonte: Serasa

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