Segundo a reitora da universidade, Márcia Abrahão, os bloqueios realizados pelo governo federal deixaram a situação financeira da instituição insustentável. Alunos, professores e funcionários temem consequências
Em meio aos cortes de verbas para a Educação, por parte do governo federal, a Universidade de Brasília (UnB) vive momentos de crise. Segundo a instituição, não há recursos para pagar o auxílio estudantil, contratos do Restaurante Universitário, da segurança, de manutenção, de limpeza e todas as demais despesas do mês de dezembro, incluindo projetos de pesquisadores.
Conforme documento, assinado pela reitora da instituição, Márcia Abrahão, a situação financeira da UnB e das demais universidades federais é dramática desde o início de 2022. Além disso, ressalta que o aperto piorou com o corte de 7,2%, feito pelo governo federal no mês de junho (R$ 18 milhões só na UnB) e, agora, torna-se “insustentável”.
Afetada pelo o bloqueio, a estudante de ciências sociais Luma Gomes da Silva, 20 anos, afirma que o corte de verbas é preocupante. “É uma falta de respeito com todos: estudantes, professores e profissionais que trabalham na UnB”, comenta. Moradora de Santa Maria, Luma destaca que, caso o Restaurante Universitário precise ser fechado, a situação vai ficar bem difícil. “Esse corte pode impedir que muitos alunos, como eu, não tenham acesso à alimentação, que é muito importante durante o dia a dia aqui na faculdade”, lamenta. “Normalmente, saio de casa às 6h, porque tenho aula às 8h. Então, tomo café da manhã, almoço e janto no restaurante”, detalha.
Mesmo não tendo qualquer indicação sobre o fechamento do local, Luma já pensa no que fazer, caso isso ocorra. “Vou passar a trazer (comida). Só que isso vai acarretar em um gasto a mais, porque antes comia todas as refeições aqui na UnB”, reclama. “Minha mãe também está preocupada, porque todos passam o dia fora, não temos tempo de cozinhar. A rotina vai ficar mais cansativa”, observa. Outro corte que vai afetar sua vida acadêmica é o do auxílio estudantil, no valor de R$ 465,00. “Com o bloqueio, não vamos ter esse dinheiro, que nos ajudava, principalmente com a volta das aulas presenciais”.
A reitora classifica a situação como uma “herança calamitosa na Educação, Ciência e Tecnologia que o governo federal parece ter decidido deixar para o seu sucessor”. Além disso, Márcia Abrahão destaca que a medida desconsidera que os principais atingidos são as parcelas mais vulneráveis. “No caso das universidades, os mais afetados são os estudantes mais pobres e os trabalhadores assalariados das empresas terceirizadas”, lembra. Funcionários das áreas alcançadas pelos cortes relataram ao Correio que estão apreensivos com a possibilidade de não receber o salário neste mês. Segundo eles, as empresas não os procuraram para falar sobre os pagamentos. No entanto, disseram que, até então, mesmo com outros cortes ocorridos, nunca sofreram atrasos.
A reportagem apurou que está programada para hoje, às 10h, uma reunião com o Sindicato dos Trabalhadores da Fundação Universidade de Brasília (Sintfub), a Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB), o Diretório Central dos Estudantes (DCE/UnB) e a Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), para discutir o cenário. Também foi informado à imprensa que as empresas terceirizadas que prestam serviço para a UnB foram informadas sobre a situação financeira da universidade.
Respostas
Também por meio de nota, o Ministério da Economia informou que um incremento atípico e acima do esperado das despesas obrigatórias com benefícios previdenciários, além da anulação da Medida Provisória que postergava, para 2023 os efeitos da lei Paulo Gustavo, pressionaram o espaço dentro do teto de gastos para o atendimento das despesas discricionárias. “Para cumprir o dispositivo constitucional do teto, o Ministério da Economia foi obrigado a promover um bloqueio adicional nos limites orçamentários e financeiros de todos os ministérios”, ressaltou o texto. Dessa forma, ainda de acordo com a nota, algumas despesas importantes que seriam realizadas neste ano ou no começo de 2023 não poderão mais ser empenhadas e praticamente todas as despesas discricionárias que seriam pagas em dezembro estão suspensas.
Fonte: Correio Braziliense