Além do posicionamento de entidades médicas sobre a imunização infantil, estudo elaborado pela Fiocruz reforça necessidade de se ampliar a proteção contra o coronavírus
Para aumentar a imunização da população contra a covid-19, é fundamental que o país adote a vacinação de crianças e se esforce em proteger pessoas que vivem em locais remotos. Essas são as recomendações de entidades médicas nacionais, bem como de um estudo divulgado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
A imunização de crianças está em um impasse desde o dia 16. Nesta data, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a aplicação da vacina da Pfizer em crianças de 5 a 11 anos. O governo federal reagiu fortemente à recomendação da agência, notoriamente o presidente da República, Jair Bolsonaro, e o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Paralelamente às declarações contrárias de Bolsonaro e Queiroga, diretores e servidores da Anvisa passaram a receber ameaças.
Ontem, entidades médicas divulgaram o parecer favorável, encaminhado à Anvisa, com posicionamento favorável à vacinação infantil contra a covid por meio do imunizante da Pfizer. Assinam o documento, entregue à Anvisa, a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). Todas as entidades se manifestaram a favor do uso do imunizante.
“A SBIm, a SBP e a SBI manifestam-se favoráveis à autorização, por entenderem que os benefícios da vacinação na população de crianças de 5 a 11 anos, com a vacina Comirnaty, no contexto atual da pandemia, superam os eventuais riscos associados à vacinação”, afirmam as instituições em nota.
A Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização da Covid-19 (CTAI) também destaca a importância da vacinação da população pediátrica, em especial diante da chegada da variante Ômicron. “Torna-se oportuno e urgente ampliarmos o benefício da vacinação a este grupo etário”, diz, em nota.
Desaceleração
Além do posicionamento de entidades médicas sobre a imunização infantil, um estudo elaborado pela Fiocruz reforça a necessidade de se ampliar a proteção contra o novo coronavírus. De acordo com a pesquisa, o ritmo de vacinação da primeira dose no Brasil está em desaceleração desde setembro.
Os pesquisadores acreditam que esse fenômeno pode indicar que a vacinação chegou ao limite, pois 74,95% da população está imunizada com a primeira dose. Eles ressaltam, ainda, que a estagnação tem mais relação com dificuldade de acesso do que com a recusa do brasileiro em receber a vacina.
Segundo cálculos da Fiocruz, considerando todos os brasileiros acima de 11 anos, cerca de 85% da população está apta para se vacinar. Para aumentar o fluxo da vacinação, a Fiocruz indica que é necessário criar estratégias que estimulem a aplicação da primeira dose em locais de difícil acesso à vacina.
A análise da Fiocruz revela como a cobertura vacinal contra a covid está desigual no Brasil. Enquanto o Norte e o Nordeste apresentam as piores coberturas, tanto de primeira quanto de segunda dose, o Centro-Sul registra dados superiores.
São Paulo e Amapá possuem, respectivamente, maior e menor cobertura vacinal no país. São Paulo com 81,41% da população vacinada com a primeira dose, enquanto, no Amapá, apenas 57,37% da população está vacinada com a primeira dose.
Apesar da alta adesão vacinal de São Paulo ser um bom indicativo — afinal, trata-se do estado recordista de casos de covid —, a imunização só alcançará consistência se alcançar regiões mais remotas, como os estados da Região Norte.
“O estudo lembra que a estratégia de vacinação como medida de mitigação da pandemia tem sido uma medida efetiva, no Brasil e no mundo. A população, de uma forma geral, vem aderindo à aplicação do imunobiológico. E acrescenta, em relação à vacinação infantil, que há imunizantes com comprovada eficácia para este grupo etário e estudos de segurança indicam que é possível sua utilização”, ressaltou a Fiocruz.
*Estagiária sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza