4 de setembro de 2021

Vacinação contra meningite busca menores de 11 anos com dose em atraso

Casos diminuíram com adoção da vacina, mas cobertura caiu

Os pais de crianças menores de 11 anos que não levaram seus filhos para se vacinar contra a doença meningogócica na idade recomendada têm nova chance para colocar a imunização em dia até dezembro de 2021. O Ministério da Saúde distribuiu 900 mil doses da vacina meningocócica C (conjugada) em agosto e ampliou a idade do público-alvo para alcançar quem deixou de ir aos postos nos últimos anos.

A vacina protege contra a bactéria meningococo C, que causa quadros graves como a meningite (inflamação nas membranas que revestem o sistema nervoso central) e a meningococemia (infecção generalizada pelo meningococo). O Programa Nacional de Imunizações (PNI) disponibiliza esse imunizante na rotina de vacinação, em um esquema de duas doses, aos 3 e 5 meses de vida, com uma dose de reforço aos 12 meses de idade.

Para os responsáveis que, por algum motivo, perderam a oportunidade de levar as crianças aos postos na idade indicada, o PNI previa a administração de uma dose até os 4 anos, 11 meses e 29 dias. Para ampliar a cobertura, desde julho, os postos de vacinação estão autorizados a vacinar também crianças menores de 11 anos que estejam em atraso com essa vacina. Segundo o Ministério da Saúde, o número de não vacinados menores de 10 anos pode chegar a 1,8 milhão.

No comunicado aos coordenadores estaduais de imunizações, a Coordenação-Geral do PNI afirma que a medida foi tomada “diante do cenário de baixas coberturas vacinais, observadas a partir de 2016, situação que se agravou a partir de 2020 com a pandemia da covid-19, possivelmente em virtude do receio da população em buscar os serviços de saúde para a atualização do Calendário de Vacinação”.

Segundo o texto, o objetivo da ampliação é aumentar a proteção contra a doença meningocócica, evitando a ocorrência de surtos pelo sorogrupo C, hospitalizações, sequelas, tratamentos de reabilitação e óbitos, em especial quando do retorno das aulas presenciais. Além disso, a medida busca otimizar o uso das doses da vacina, acrescenta o comunicado, “em virtude do baixo consumo desta vacina nos últimos anos, e da existência de quantitativo de doses”.

O presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Juarez Cunha, ressalta que o Brasil teve uma queda expressiva no número de casos da doença desde que adotou a vacina no Sistema Único da Saúde (SUS), em 2010. A queda da cobertura nos últimos anos, porém, traz um alerta, porque a doença não parou de circular.

“Isso significa que temos um contingente de muitas crianças que não foram vacinadas e são suscetíveis a uma doença que é endêmica no país. Essa bactéria, há muitos anos, está presente no nosso meio, já causou surtos epidêmicos em outros momentos, e o risco de não termos essa cobertura adequada é termos novos casos dessas doenças, que são graves”, afirmou.

Como a transmissão dessa bactéria é respiratória, Cunha avalia que as medidas de prevenção contra o vírus SARS-CoV-2 também têm contido o número de casos de doença meningocócica. “O cenário nos preocupa muito, porque, com o retorno às escolas e com a maior flexibilização de todas as medidas não farmacológicas, isso pode acarretar aumento do número de casos, para uma doença que é evitável e para a qual temos uma vacina disponível na rede pública.”

O presidente da SBIm também chama a atenção para a vacinação da faixa etária seguinte, as crianças e adolescentes de 11 e 12 anos, que devem tomar a vacina meningocócica ACWY, contra quatro sorotipos do meningococo.

Infectologista e gerente médica de vacinas da farmacêutica GSK, que fornece a vacina ao SUS, Lessandra Michelin alerta que o meningococo C é uma bactéria agressiva, que pode causar sequelas neurológicas graves, amputações e levar à morte em menos de 24 horas, mesmo quando diagnosticado e tratado.

“O meningococo não causa só a meningite. Essa bactéria pode entrar na circulação sanguínea e causar uma infecção sistêmica, afetando muitos órgãos, e pode também se manifestar na forma de uma pneumonia. Mas a forma mais frequente é a de meningite”.

Além dos pais, a infectologista pede que os profissionais de saúde também atentem para o calendário vacinal e recomendem a imunização contra o meningococo C. “Os profissionais de saúde têm um papel fundamental na indicação. Muitas vezes, na correria do dia a dia, em uma consulta médica, a gente esquece de perguntar como está a carteirinha vacinal. Este é o nosso papel como profissionais de saúde. E não é só o medico. O enfermeiro, o auxiliar de enfermagem no posto e até o profissional da farmácia.”

Uma pesquisa realizada pela GSK e divulgada em março deste ano mostrou que a pandemia de covid-19 fez com que pais adiassem a vacinação contra a meningite em diversos países. No caso do Brasil, 72% dos entrevistados que não levaram os filhos para se vacinar apontaram as restrições para a prevenção da covid-19 como uma das causas; 45% afirmaram ter medo de ser infectados pelo novo coronavírus e 19% disseram ainda que não levaram as crianças para se imunizar contra a meningite porque contraíram covid-19 ou tiveram que cuidar de alguém com a doença.

Lessandra Michelin destaca que, seguindo as medidas de prevenção, a ida aos postos de vacinação é segura e não deve mais ser adiada. “Estamos em um outro momento da pandemia, e faz parte a gente ter que atualizar os calendários agora, porque as crianças também estão tendo maior mobilidade, estão voltando à escola e a atividades extracurriculares e precisam estar protegidas.”

Edição: Nádia Franco

Foto:Geovana Albuquerque

Fonte:agenciabrasil.

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