27 de setembro de 2023

Número de transplantes aumenta 8% no DF em 2023, em relação ao ano passado

Comparando o intervalo entre janeiro e agosto deste ano, foram 42 procedimentos a mais que em 2022. Especialistas ressaltam a importância de manter a conscientização quanto à doação de órgãos, que ainda é um dos grandes desafios

A auxiliar administrativa Laura Nascimento recebeu um novo rim, em agosto deste ano, e espera
A auxiliar administrativa Laura Nascimento recebeu um novo rim, em agosto deste ano, e espera “recomeçar” sua vida – (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

“É algo incrível, outra vida. Estou recuperando o tempo perdido.” Este é o relato da auxiliar administrativa Laura Nascimento, 32 anos, que mora em Sobradinho. Ela é uma das pessoas que fizeram um transplante de rim em 2023. Hoje, data em que se comemora o Dia Nacional da Doação de Órgãos, os dados sobre esse tipo de cirurgia na capital do país são animadores.

De janeiro a agosto deste ano, de acordo com dados da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF), foram 543 transplantes, contra 501 no mesmo período de 2022 — 8,3% de alta. Em relação ao rim, órgão recebido por Laura, o aumento percentual tem mais destaque: 93 operações em 2023 e 64 no ano passado — uma variação positiva de 45,3% (confira o infográfico). Em relação a 2019, um ano antes da pandemia da covid-19, também houve um avanço no número de transplantes. Foram realizados 410 no mesmo período de comparação.

PRI-2409-TRANSPLANTES
PRI-2409-TRANSPLANTES(foto: Valdo Virgo)

 

A moradora de Sobradinho conta que descobriu sua doença renal em 2018. “Fiquei em tratamento conservador até 2020, ano em que passei a fazer a diálise peritoneal”, detalha. “No ano seguinte, entrei na fila do transplante. Demorei um tempo para entrar porque fiquei um pouco abalada com o diagnóstico. Fui chamada em abril deste ano, só que não deu certo. Somente alguns meses depois, em agosto, consegui fazer a cirurgia”, acrescenta Laura.

A auxiliar administrativa comenta que, entre 2018 e 2020, foi o período mais tranquilo, pois seu tratamento era somente para regular a pressão, por exemplo. “Mas quando tive que passar para a diálise, as coisas pioraram, porque a gente se priva de muita coisa: alimentação, ciclo social, relacionamento, etc”, recorda. “Deu meio que uma depressão, porque a gente fica só em casa, não quer sair, não quer ver ninguém, não quer contar para as pessoas o que a gente está passando”, lamenta

Virada

De acordo com Laura, foi a família que deu o maior apoio durante os momentos mais difíceis. “Tanto meu esposo quanto meus familiares foram fundamentais. Sempre me apoiaram, desde o início do tratamento”, enaltece. Depois da operação, Laura é só alegria. “Não sinto mais cansaço, porque eu tinha muita anemia e me sentia exausta, mas estou me sentindo melhor”, comemora. “Sem contar que não ter mais que fazer a diálise é algo incrível. Agora, é esperar passar o tempo de risco e voltar a trabalhar, cuidar dos meus filhos. Viver a vida”, descreve.

Para quem ainda tem qualquer receio quanto à doação de órgãos, Laura faz um apelo. “Entendo que é um momento de perda para a família, que está em um momento fragilizado, mas tem outras pessoas que precisam do órgão para poder seguir, continuar uma vida, uma luta”, observa. “Tem gente que é doadora, só que a família, muitas vezes, não respeita o desejo”, lamenta.

Conscientização

A observação de Laura é uma das principais queixas da diretora da Central Estadual de Transplantes do DF, Gabriella Ribeiro Christmann. “A conscientização é o principal desafio aqui no DF. Ainda temos uma taxa de recusa de doação de órgãos de 55%. Alguns motivos são: a demora na entrega do corpo, pois precisamos de 48h a 72h para preparar, fazer os exames, distribuir o órgão e acionar o centro cirúrgico, e a família quer sepultar logo e se queixa da demora”, comenta.

“Além disso, quando a família não tem ciência do desejo de doar órgãos do ente querido, na dúvida, ela opta por não doar. Quando a família tem a ciência da vontade da pessoa, ela não se opõe. Por isso é importante deixar claro, em vida, que você quer ser um doador”, alerta Gabriella.

Outro desafio, de acordo com a diretora da Central Estadual de Transplantes, é a capacitação das equipes do DF, como um todo, para melhorar a assistência e manutenção do doador. “Se os cuidados não forem adotados, chega um momento em que há falência dos órgãos. E aí perdemos um doador. Vamos começar essa capacitação em outubro”, revela.

Médico nefrologista da equipe de transplante renal do Hospital Universitário de Brasília(HUB/UnB) — local onde Laura fez a cirurgia —, Gustavo Arimatea concorda com a médica da central de transplantes em relação à doação. “Temos que trabalhar no sentido de lembrar as pessoas que querem ser doadores, que falem com suas famílias em vida e digam que desejam ser doadoras, porque quando chega esse momento, a família quase sempre tenta respeitar o desejo do falecido”, destaca.

“O transplante é uma terapia que salva vidas e melhora a qualidade de vida. Para falar bem a verdade, o principal motivo de se realizar transplante de órgãos é porque transplantar garante anos a mais de vida para quem recebe o órgão”, complementa Arimatea.

Renascimento

É o que aconteceu com o empresário Robério Melo, 59. O morador de Taguatinga teve 90% do fígado comprometido, em 2017, por conta de uma cirrose hemocromatose (a sobrecarga de ferro) e, por isso, teve que entrar na fila do transplante. Para ele, 19 de maio daquele ano é a data mais importante de sua vida.

“Fiquei uma semana em casa, e foram dias muito difíceis. Num deles, a minha esposa e minha irmã decidiram me levar ao hospital, pois eu não estava bem”, relembra. “Chegando lá, escutei o médico falando que eu teria três dias de vida. Depois disso, entraria em coma e o quadro seria irreversível”, acrescenta.

Ele conta que, no dia seguinte à internação, quando estava ficando sem esperanças, recebeu uma notícia. “Na quinta, quando estava sozinho na UTI, uma enfermeira entrou e disse: ‘Seu Robério, a partir de agora você não vai tomar nem água, pois amanhã de manhã vai acontecer o seu transplante’. Meu coração só faltou explodir de alegria”, brinca. “Aquele foi o momento mais importante da minha vida, pois na sexta era o terceiro dia, nas contas do médico, e eu poderia morrer”, recorda.

Depois da cirurgia, o empresário diz ter percebido que a vida tinha dado um presente a ele. “A minha visão de vida, hoje, é outra. Essa coisa de carro, casa e dinheiro não tem mais muita importância”, aponta. “O que tem valor é a família, os amigos, Deus — que me salvou mesmo — são essas coisas que passaram a ter importância na minha vida. Vivo mais presente na minha casa, para a minha família, curto mais os meus filhos”, ressalta Melo.

Como doar

Para ser doador, não é necessário deixar nada por escrito, em nenhum documento. Basta comunicar sua família do desejo da doação. A doação de órgãos e tecidos só acontece após a autorização familiar. Há dois tipos de doadores:

Doador vivo

Qualquer pessoa que concorde com a doação, desde que não prejudique a sua própria saúde. Ela pode doar um dos rins, parte do fígado, parte da medula óssea ou parte do pulmão. Pela lei, parentes até o quarto grau de cônjuges podem ser doadores. Não parentes, só com autorização judicial;

Doador falecido

São vítimas de lesões cerebrais irreversíveis, com morte encefálica comprovada por realização de exames clínicos e de imagem.

Fonte: Painel InfoSaúde-DF

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