Filho do presidente Jair Bolsonaro, o deputado federal, que iniciou mais uma crise com a China após publicar tuítes sobre 5G, acredita que situação não prejudica relação entre países e garante ter “convicções e suspeitas fundadas”
Depois de iniciar mais uma crise com a China, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro, disse ao Correio, nesta quarta-feira (25/11), em evento que discutia regularização fundiária, que o país asiático adota uma postura agressiva e lamenta a nota publicada pela embaixada chinesa. A referida nota diz que as palavras do parlamentar sobre a China são “inaceitáveis”, e que ele e outras personalidades têm feito declarações “infames” e que “solapam a atmosfera amistosa entre os dois países
“A China adota uma postura muito agressiva, isso é lamentável. E é lamentável que na parte final da nota ela ainda sirva da fala individual de um parlamentar (Eduardo Bolsonaro), ainda que presidente da Comissão de Relações Exteriores, para, na minha visão, fazer uma ameaça velada ao Brasil”, disse à reportagem.
A situação teve início depois que Eduardo fez uma série de publicações em seu Twitter que acusava a China de espionagem via 5G. “O Brasil apoia projeto dos EUA para o 5G e se afasta da tecnologia chinesa”, dizia a publicação, que foi apagada por ele. E continuava: “O governo de Jair Bolsonaro declarou apoio à aliança Clean Network, lançada pelo governo Donald Trump, criando uma aliança global para um 5G seguro, sem espionagem da China”.
Como resposta, a embaixada chinesa divulgou na última terça-feira (24) uma nota manifestando forte insatisfação e repúdio ao comportamento do deputado e disse, ao final, que as personalidades brasileiras devem “deixar de seguir a retórica da extrema direita norte-americana, cessar as desinformações e calúnias sobre a China e evitar ir longe demais no caminho equivocado”.
Apesar de ter apagado a publicação, o parlamentar reiterou suas preocupações, dizendo ter suas convicções e suspeitas fundadas”. “Não à toa está se formando, devido a essa preocupação fundada, uma aliança internacional para analisar essa questão do 5G”, disse.
Não é contra a Huawei (empresa líder na tecnologia 5G) ou contra a China. É para que seja feita uma segurança técnica de maneira a não se permitir o vazamento de dados ou o furto de informações. Enfim, essa que é a grande preocupação. Pode ver [que] no Brasil foi criado recentemente a agência brasileira de proteção de dados [Autoridade Nacional de Proteção de Dados — ANPD]. Esse é o assunto do momento”, afirmou.
Eduardo Bolsonaro ressaltou que “a informação é valiosa e não pode ser tratada de qualquer maneira”. “É uma situação de segurança nacional, sim. Porque no fim das contas estamos falando de dados do governo, cadastro de servidores públicos, agentes de inteligência, informações sensíveis que podem ser estratégicas nacionalmente”, disse.
“Relação sólida e madura”
Apesar da dura resposta chinesa, Eduardo Bolsonaro disse acreditar que as suas declarações não atrapalham as relações entre Brasil e China. Para ele, os dois países possuem una relação sólida e madura o suficiente para aceitar críticas. “Ou será que a todo mundo que a gente faz negócio eu tenho que falar amém para o governo dos outros? Não é assim. É uma questão sensível o 5G. Não é só no Brasil. É no mundo inteiro”, afirmou ao Correio.
De acordo com ele, “confundem, lamentavelmente, a opinião de um deputado com a opinião de governo”. “Quem falou isso foi Eduardo Bolsonaro, não foi Jair Bolsonaro. Não sou legitimado por 59 milhões de votos”, disse.
Questionado se acreditava que o Brasil não deveria firmar nenhuma parceria no âmbito desta tecnologia com empresa chinesa, respondeu: “Não vou entrar nessa polêmica para novamente ser confundida a minha fala com a posição do governo”.
O deputado ressaltou que a “diplomacia chinesa tem adotado uma posição muito agressiva”, e que isso é confirmado por outros embaixadores. O deputado lembrou um problema que teve inicialmente com o embaixador Yang Wanming, quando o perfil da embaixada da China no Brasil republicou uma mensagem que dizia que a família Bolsonaro é “o grande veneno deste país”.
“Isso daí que dá margem, segundo a comissão [Convenção] de Viena, para expulsão do país, mas a gente resolveu relevar em nome da boa relação com a China”, afirmou.
Mais crise
Não é a primeira vez que o deputado, presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, inicia uma crise diplomática com a China. Em março deste ano, ele republicou também no Twitter uma postagem que dizia que o Partido Comunista Chinês era o culpado pela pandemia e ainda afirmou que o país escondeu o coronavírus. Ele também comparou a postura do país no combate ao vírus ao episódio de Chernobyl, na antiga União Soviética.
Na ocasião, o embaixador Yang Wanming repudiou as palavras do deputado e exigiu que ele se desculpasse ao povo chinês. Pelo Twitter, a embaixada da China no Brasil respondeu diretamente o parlamentar: “As suas palavras são extremamente irresponsáveis e nos soam familiares. Não deixam de ser uma imitação dos seus queridos amigos. Ao voltar de Miami, contraiu, infelizmente, vírus mental, que está infectando as amizades entre os nossos povos”.correiobraziliense