27 de outubro de 2021

Alunas de escola rural recebem doação de absorventes

Ação faz parte da campanha ‘Dignidade Feminina’, que também leva palestras e debates sobre o ciclo menstrual para a comunidade escolar

O acesso à informação e a educação sobre esse tema também são fundamentais para que, de fato, possamos garantir a dignidade feminina”Marcela Passamani, secretária de Justiça e Cidadania

O tema menstruação nunca havia sido debatido pela estudante Manuelle Bonifácio, de 12 anos, fora de casa. “Eu só tinha conversado sobre isso com a minha mãe”, diz a menina, que estuda no Centro Educacional Myriam Ervilha, em Água Quente, região rural do Recanto das Emas.

A escola foi a segunda da região administrativa a receber a campanha Dignidade Feminina, promovida pela Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus) em parceria com outras setes secretarias do GDF. O programa consiste em levar conhecimento sobre o ciclo menstrual a estudantes das escolas públicas do DF, por meio de palestras e capacitações.

A iniciativa também arrecada doações de absorventes higiênicos para serem distribuídos na rede pública de ensino. “É muito importante levar o conhecimento para meninas e meninos de um tema que é tabu. Queremos quebrar esse preconceito contra a menstruação”, afirma Rodrigo Barroso, subsecretário de Políticas para Crianças e Adolescentes da Sejus.

No Centro Educacional Myriam Ervilha, as alunas assistiram a palestras sobre questões básicas da menstruação e o conceito de pobreza menstrual | Fotos: Geovana Albuquerque/Agência Brasília

Para a secretária de Justiça e Cidadania, Marcela Passamani, a dignidade menstrual não é conquistada apenas com a distribuição de absorventes a adolescentes e mulheres em vulnerabilidade. “Claro que os itens de higiene íntima são importantes. No entanto, o acesso à informação e a educação sobre esse tema também são fundamentais para que de fato possamos garantir a dignidade feminina”, afirma

“Também acho necessário sensibilizar os meninos. Só assim eles poderão tratar o tema de forma natural”Estela Vieira, vice-diretora do Centro Educacional Myriam Ervilha

“Por isso, lançamos essa campanha com o intuito de levar esperança por um futuro mais justo e igualitário, principalmente às nossas adolescentes, apoiando-as nessa fase de transformação de meninas a mulheres e na relação com seu próprio corpo”, acrescenta a secretária.

Combatendo o desconhecimento

Rodrigo Barroso explica que foram levados para a escola absorventes suficientes para 210 meninas. A conta é uma média de sete absorventes por dia por um período de sete dias. Ou seja, cada garota deve receber 49 absorventes. A distribuição fica por conta da própria unidade escolar. “Achamos mais interessante que o controle e a entrega sejam feitos pela escola. As meninas se sentem mais à vontade com as professoras”, completa Barroso.

Nathally Magalhães da Silva, 14 anos, conta que a escola chegou a ter absorventes disponíveis no banheiro. Mas a iniciativa acabou porque alguns não respeitavam. Por isso, ela acredita ser importante a campanha para falar da menstruação de forma natural no ambiente escolar. “É muito importante trazer esse assunto para a escola. Muitos meninos ficam só zoando as meninas”, comenta.

A estudante Steffany Araújo Oliveira concordou com a necessidade de desenvolver o tema na escola: “Os meninos precisam conhecer mais”

Para a vice-diretora do Centro Educacional Myriam Ervilha, Estela Vieira, a campanha serve para combater o desconhecimento em torno do tema. “Acho muito importante, em primeiro lugar, naturalizar o ciclo menstrual e a importância desse processo. Também acho necessário sensibilizar os meninos. Só assim eles poderão tratar o tema de forma natural”, avalia.

Palestras e capacitações

Mais do que uma campanha de arrecadação e distribuição de absorventes, a Dignidade Feminina aposta na disseminação de informação. Em toda escola por onde a iniciativa passa, ocorrem palestras sobre o tema.

No Centro Educacional Myriam Ervilha, o evento contou com as falas da enfermeira Julieta Nunes, coordenadora do programa Sua Vida Vale Muito, da Sejus, e da procuradora Maria Dionne de Araújo Felipe, à frente do movimento Tributo a Elas.

“Quando uma menina deixa de ir à escola por não ter absorventes, ali se inicia a desigualdade de gênero, que a acompanha durante muitos anos”Maria Dionne de Araújo Felipe, do movimento Tributo a Elas

Coube a Julieta abordar as questões básicas da menstruação, por meio de uma linguagem lúdica e menos técnica. “Muitas meninas não sabem o que está acontecendo quando menstruam. Essa palestra é um autoconhecimento para elas. Além de ser uma informação para os meninos”, diz.

Já Dionne fez uma exposição sobre o conceito de pobreza menstrual, situação que é vivenciada por uma a cada quatro meninas, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU). “Quando uma menina deixa de ir à escola por não ter absorventes, ali se inicia a desigualdade de gênero, que a acompanha durante muitos anos. Por isso, precisamos de políticas públicas para despertar uma consciência coletiva e evitar situações de vulnerabilidade como essa”, analisa.

A estudante Steffany Araújo Oliveira, 13 anos, concorda. “Acho bom podermos desenvolver mais esse tema. Os meninos precisam conhecer mais. Eles falam que é algo sujo, porque não têm conhecimento. Precisamos crescer com essa consciência”, afirma.

Após a passagem pelo Recanto das Emas, a iniciativa Dignidade Feminina segue para Planaltina. A expectativa é de que as escolas da região recebam os eventos a partir da primeira semana de novembro. Em cada instituição, a Sejus deixa panfletos e informes para que os professores continuem a campanha.

Fonte:ADRIANA IZEL, DA AGÊNCIA BRASÍLIA | EDIÇÃO: ROSUALDO RODRIGUES

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